sexta-feira, 1 de junho de 2007

O Cavalo Crioulo no Freio de Ouro: Morfologia & Função

O texto abaixo foi publicado pelo Jornal do Cavalo Crioulo em novembro de 2005.


Este é um espaço de comemoração antecipada dos 25 anos do Freio de Ouro. Estou aqui a apresentar aspectos e números deste que é o maior evento da raça crioula. Na edição do Cavalo Crioulo do mês que passou, apresentei uma análise do desempenho dos ginetes que conduziram mais de um cavalo nas finais de 2004 e 2005. Nesta edição, vou dar foco à relação entre Morfologia e Função.

MORFOLOGIA & FUNÇÃO NA MEDIDA CERTA

Quando verificamos os resultados da final do Freio de Ouro, ficamos muitas vezes com a sensação de que a média morfológica é de suma importância para a definição das primeiras posições. Mas qual é exatamente o peso da morfologia e da função na composição da média final? Qual é o ponto de equilíbrio? Animais com média morfológica alta (ao redor de 8) têm desempenho funcional inferior a animais com notas mais baixas em morfologia?

Nas seis últimas edições do Freio de Ouro (de 2000 a 2005), 408 animais chegaram a Esteio para disputar a Final, durante a Expointer. Destes, 173 disputaram as últimas provas no domingo. Foram distribuídos, nesse período, 12 freios de ouro, 12 de prata e 12 de bronze. Além disso, 120 animais chegaram entre os dez primeiros colocados. Este é o universo de dados que vou utilizar no presente estudo.

A média morfológica de 407 dos 408 animais que chegaram à final do Freio a partir de 2000 é “7,076”. Se considerarmos apenas os 173 animais que disputaram no domingo, a média passa a “7,305”. Se considerarmos ainda somente os 120 animais que chegaram nas dez primeiras posições, a média morfológica sobe para “7,403”. Se, por fim, considerarmos apenas os 36 animais premiados com ouro, prata e bronze, a média será “7,431” (ver quadro). Esses resultados revelam que quanto melhor a colocação do animal, maior a média morfológica.


A média funcional dos 173 animais que disputaram todas as provas, inclusive as de domingo, foi “12,225”. Se considerarmos somente os 120 animais que chegaram entre os 10 primeiros, a média morfológica foi de “12,503”. Se, por fim, considerarmos apenas os 36 animais premiados, a média será “12,525”. Esses resultados revelam também que, quanto melhor a colocação do animal, maior a média funcional.

O que deve ser observado (nos gráficos), entretanto, é que a diferença de avaliação tanto morfológica quanto funcional não é significativa entre os valores associados quer aos dez primeiros quer aos premiados com ouro, prata ou bronze.

Os vinte animais com os melhores resultados finais de 2000 até hoje obtiveram notas que variaram de 20,753 a 21,680. Dentre esses vinte, seis animais atingiram média morfológica superior a 8, mas apenas três (‘Debochado do Quartel Mestre’, ‘Destaque de Santa Adriana’ e ‘BT Harmônico’) estão entre os que receberam as dez melhores notas morfológicas desse período – todas acima de 8,133. De outro modo, desses vinte animais, entre as dez notas funcionais mais altas (mais de 13,505) estão ‘Reservada de Santa Edwiges’, ‘Candidato Simpatia’, ‘JA Santinha’, ‘Pozo Azul Caminera’, ‘Butiá Guarani’, ‘BT Faraó’, ‘BT Hebreu’ e ‘Baliza da Cabanha Gaúcha’ (oito animais). Isso significa que, ao que parece, a média funcional tem maior influência sobre o resultado final do que a média morfológica. O que parece lógico, sobretudo se considerarmos que a nota funcional equivaleu, em média, a 62,6% da nota final dos 173 animais que passaram para o domingo.

Para tentar responder às questões apresentadas no início deste texto, comparei, primeiramente, o desempenho de animais que obtiveram médias morfológicas maiores do que 7 e que disputaram, no mínimo, três finais do Freio de Ouro no período de 2000 a 2005. Ao cotejar o desempenho e a média morfológica atribuída a cada animal nas várias edições do Freio que cada um disputou, percebi que ‘Campana Farrapo’, ‘Descoberta do Itapororó’, ‘Gago de Santa Angélica’ e ‘LS Balaqueiro’ são exemplos que se alinham à tese de que morfologia alta prejudica o desempenho funcional, pois, a edição do Freio de Ouro em que lhes foi atribuída a maior média morfológica, foi também a edição em que receberam a menor a nota funcional. Todavia, ‘BT Harmônico’, ‘Butiá Luíza’, ‘Capella La Rienda’ e ‘Rodopio de Santa Edwiges’ são contra-exemplos, pois eles receberam a maior nota funcional justamente no ano em que obtiveram a melhor nota morfológica.

Analisei os dados, também, através de análise estatística da variação ‘morfologia & função’ (análise multivariada), o que permitiu confirmar que é a média funcional a mais significativa para a definição da nota final. Assim, notas funcionais mais altas estão associadas diretamente a notas finais mais altas. Isso significa dizer que, do ponto de vista aqui abordado, a nota morfológica não tem influência prioritária para a definição dos resultados. As análises demonstraram que a nota morfológica ajuda a definir os seis melhores animais, mas não para quem vai o ouro, a prata ou o bronze dentre os seis.

Em outras análises estatísticas – com pesos relativos – pude constatar a adequação da tese defendida por Dirceu Dornelles Pons sobre o necessário equilíbrio entre a morfologia e a funcionalidade dos Cavalos Crioulos: “Animais de 8 de morfologia seriam mais volumosos, com maior dificuldade em termos de movimento.” (Anuário da ABCCC, 2004, p. 326). Essas análises me permitiram notar que os animais com média morfológica superior a 7,8 têm, em média, desempenho sofrível nas provas funcionais de rédeas (abaixo de 11,500), isto é, naquelas que testam a habilidade do animal sem o estímulo do boi. O que pode significar que animais mais volumosos tenham mais dificuldade para executar os movimentos pedidos nessas provas. Nas provas de campo e mangueira, entretanto, estes animais têm desempenho médio ligeiramente superior aos animais de morfologia mais baixa, embora a diferença não seja estatisticamente significativa.

Em suma, podemos concluir que:

1) a média funcional prepondera sobre a média morfológica, sobretudo para definir quem deverá obter ouro, prata ou bronze;

2) embora o peso da morfologia seja menor (37,4%, em média) do que o da função, foi constatado que, se o animal atingir média morfológica ao redor de 7,4, as chances de chegar entre os dez primeiros no Freio de Ouro são maiores;

3) o ponto de equilíbrio entre morfologia e função equivale a uma nota funcional ao redor de 12,5 e morfológica de 7,4;

4) nota morfológica alta (em torno de 8) não implica necessariamente fraco desempenho funcional, pois, no geral e nas provas de campo e mangueira (com motivação extra propiciada pelo boi), esses animais têm atingido notas semelhantes aos de média morfológica mais baixa (ainda que nas provas de rédeas – sem boi – o desempenho dos animais de morfologia alta tenha sido bastante inferior aos demais).

Neste espaço, no mês-que-vem, qual o melhor cavalo para disputar o Freio de Ouro: ‘chileno puro’ ou ‘cruzado’.

Prof. Dr. Luís Centeno do Amaral

centenoamaral@gmail.com


Do período de 2000 a 2005, foi no Freio de Ouro do ano 2000 que foram estabelecidos os recordes morfológico (8,533 – Debochado do Quartel Mestre), funcional (14,264 – Reservada de Santa Edwiges, montada por Milton Castro) e geral (21,680 – Reservada de Santa Edwiges). Nesse período, os cinco melhores resultados do Freio de Ouro nessas categorias são:

EM MORFOLOGIA


Ano

Animal

Média Morfológica

Colocação

Peso da Morfologia*

2000

DEBOCHADO DO QUARTEL MESTRE

8,533

Prata

39,7 %

2003

BT MARAGATA

8,533

19º


2004

QUILAPY FACA PITOCA

8,400

42,3 %

2003

LA HORNADA RCP

8,383

44,9 %

2000

DESTAQUE DE SANTA ADRIANA

8,333

Ouro

38,5 %

EM FUNCIONALIDADE


Ano

Animal

Média Funcional

Colocação

Peso da Morfologia*

2000

RESERVADA DE SANTA EDWIGES

14,264

Ouro

34,2 %

2002

CANDIDATO SIMPATIA

14,250

Ouro

33,7 %

2000

JA SANTINHA

14,096

33,6 %

2000

POZO AZUL CAMINERA

13,994

33,4 %

2000

BUTIÁ GUARANI

13,757

33,7 %

NO GERAL


Ano

Animal

Média Final

Colocação

Peso da Morfologia*

2000

RESERVADA DE SANTA EDWIGES

21,680

Ouro

34,2 %

2000

DESTAQUE DE SANTA ADRIANA

21,641

Ouro

38,5 %

2000

DEBOCHADO DO QUARTEL MESTRE

21,504

Prata

39,7 %

2002

CANDIDATO SIMPATIA

21,494

Ouro

33,7 %

2000

BALIZA DA CABANHA GAÚCHA

21,395

Prata

36,5 %

*Peso da morfologia para a composição da média final

Destaque de Santa Adriana e Butiá Karol são os únicos animais a freqüentar ambas as listas dos vinte melhores, tanto em Morfologia, quanto em Função.

2000 – DESTAQUE DE SANTA ADRIANA –

Morfologia: 8,333 (5º)

Função: 13,308 (16º)

Final: 21,641 (2º)

2000 – BUTIÁ KAROL –

Morfologia: 8,067 (14º)

Função: 13,207 (17º)

Final: 21,363 (6º)

– Apenas quatorze animais tiraram médias finais superiores a 21 pontos. Destes, dez animais (71 %) ficaram entre os três primeiros.

– Vinte e quatro animais obtiveram médias morfológicas superiores a 8 pontos. Destes, dez animais (42 %) ficaram entre os três primeiros.

– Onze animais conseguiram médias funcionais superiores a 13,5 pontos. Destes, seis animais (55 %) ficaram entre os três primeiros .

Para ter chance de ficar entre os DEZ primeiros

Nota morfológica mínima: 6,400

Média funcional mínima: 11,000

Nota morfológica desejável: superior a 7,400

Média funcional desejável: superior a 12,500

Para ter chance de ficar entre os TRÊS primeiros

Nota morfológica mínima: 7,000

Média funcional mínima: 12,000

Nota morfológica desejável: superior a 7,600

Média funcional desejável: superior a 13,000

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