O texto abaixo foi publicado pelo Jornal do Cavalo Crioulo em novembro de 2005.
Este é um espaço de comemoração antecipada dos 25 anos do Freio de Ouro. Estou aqui a apresentar aspectos e números deste que é o maior evento da raça crioula. Na edição do Cavalo Crioulo do mês que passou, apresentei uma análise do desempenho dos ginetes que conduziram mais de um cavalo nas finais de 2004 e 2005. Nesta edição, vou dar foco à relação entre Morfologia e Função.
MORFOLOGIA & FUNÇÃO NA MEDIDA CERTA
Quando verificamos os resultados da final do Freio de Ouro, ficamos muitas vezes com a sensação de que a média morfológica é de suma importância para a definição das primeiras posições. Mas qual é exatamente o peso da morfologia e da função na composição da média final? Qual é o ponto de equilíbrio? Animais com média morfológica alta (ao redor de 8) têm desempenho funcional inferior a animais com notas mais baixas em morfologia?
Nas seis últimas edições do Freio de Ouro (de
A média morfológica de 407 dos 408 animais que chegaram à final do Freio a partir de 2000 é “
A média funcional dos 173 animais que disputaram todas as provas, inclusive as de domingo, foi “
O que deve ser observado (nos gráficos), entretanto, é que a diferença de avaliação tanto morfológica quanto funcional não é significativa entre os valores associados quer aos dez primeiros quer aos premiados com ouro, prata ou bronze.
Os vinte animais com os melhores resultados finais de 2000 até hoje obtiveram notas que variaram de
Para tentar responder às questões apresentadas no início deste texto, comparei, primeiramente, o desempenho de animais que obtiveram médias morfológicas maiores do que 7 e que disputaram, no mínimo, três finais do Freio de Ouro no período de
Analisei os dados, também, através de análise estatística da variação ‘morfologia & função’ (análise multivariada), o que permitiu confirmar que é a média funcional a mais significativa para a definição da nota final. Assim, notas funcionais mais altas estão associadas diretamente a notas finais mais altas. Isso significa dizer que, do ponto de vista aqui abordado, a nota morfológica não tem influência prioritária para a definição dos resultados. As análises demonstraram que a nota morfológica ajuda a definir os seis melhores animais, mas não para quem vai o ouro, a prata ou o bronze dentre os seis.
Em outras análises estatísticas – com pesos relativos – pude constatar a adequação da tese defendida por Dirceu Dornelles Pons sobre o necessário equilíbrio entre a morfologia e a funcionalidade dos Cavalos Crioulos: “Animais de 8 de morfologia seriam mais volumosos, com maior dificuldade em termos de movimento.” (Anuário da ABCCC, 2004, p. 326). Essas análises me permitiram notar que os animais com média morfológica superior a 7,8 têm, em média, desempenho sofrível nas provas funcionais de rédeas (abaixo de 11,500), isto é, naquelas que testam a habilidade do animal sem o estímulo do boi. O que pode significar que animais mais volumosos tenham mais dificuldade para executar os movimentos pedidos nessas provas. Nas provas de campo e mangueira, entretanto, estes animais têm desempenho médio ligeiramente superior aos animais de morfologia mais baixa, embora a diferença não seja estatisticamente significativa.
Em suma, podemos concluir que:
1) a média funcional prepondera sobre a média morfológica, sobretudo para definir quem deverá obter ouro, prata ou bronze;
2) embora o peso da morfologia seja menor (37,4%, em média) do que o da função, foi constatado que, se o animal atingir média morfológica ao redor de 7,4, as chances de chegar entre os dez primeiros no Freio de Ouro são maiores;
3) o ponto de equilíbrio entre morfologia e função equivale a uma nota funcional ao redor de 12,5 e morfológica de 7,4;
4) nota morfológica alta (em torno de 8) não implica necessariamente fraco desempenho funcional, pois, no geral e nas provas de campo e mangueira (com motivação extra propiciada pelo boi), esses animais têm atingido notas semelhantes aos de média morfológica mais baixa (ainda que nas provas de rédeas – sem boi – o desempenho dos animais de morfologia alta tenha sido bastante inferior aos demais).
Neste espaço, no mês-que-vem, qual o melhor cavalo para disputar o Freio de Ouro: ‘chileno puro’ ou ‘cruzado’.
Prof. Dr. Luís Centeno do Amaral
centenoamaral@gmail.com
Do período de
EM MORFOLOGIA
| Ano | Animal | Média Morfológica | Colocação | Peso da Morfologia* |
1º | 2000 | DEBOCHADO DO QUARTEL MESTRE | 8,533 | Prata | 39,7 % |
1º | 2003 | BT MARAGATA | 8,533 | 19º | |
3º | 2004 | QUILAPY FACA PITOCA | 8,400 | 4º | 42,3 % |
4º | 2003 | LA HORNADA RCP | 8,383 | 7º | 44,9 % |
5º | 2000 | DESTAQUE DE SANTA ADRIANA | 8,333 | Ouro | 38,5 % |
EM FUNCIONALIDADE
| Ano | Animal | Média Funcional | Colocação | Peso da Morfologia* |
1º | 2000 | RESERVADA DE SANTA EDWIGES | 14,264 | Ouro | 34,2 % |
2º | 2002 | CANDIDATO SIMPATIA | 14,250 | Ouro | 33,7 % |
3º | 2000 | JA SANTINHA | 14,096 | 5º | 33,6 % |
4º | 2000 | POZO AZUL CAMINERA | 13,994 | 7º | 33,4 % |
5º | 2000 | BUTIÁ GUARANI | 13,757 | 4º | 33,7 % |
NO GERAL
| Ano | Animal | Média Final | Colocação | Peso da Morfologia* |
1º | 2000 | RESERVADA DE SANTA EDWIGES | 21,680 | Ouro | 34,2 % |
2º | 2000 | DESTAQUE DE SANTA ADRIANA | 21,641 | Ouro | 38,5 % |
3º | 2000 | DEBOCHADO DO QUARTEL MESTRE | 21,504 | Prata | 39,7 % |
4º | 2002 | CANDIDATO SIMPATIA | 21,494 | Ouro | 33,7 % |
5º | 2000 | BALIZA DA CABANHA GAÚCHA | 21,395 | Prata | 36,5 % |
*Peso da morfologia para a composição da média final
Destaque de Santa Adriana e Butiá Karol são os únicos animais a freqüentar ambas as listas dos vinte melhores, tanto em Morfologia, quanto em Função.
2000 – DESTAQUE DE SANTA ADRIANA –
Morfologia: 8,333 (5º)
Função: 13,308 (16º)
Final: 21,641 (2º)
2000 – BUTIÁ KAROL –
Morfologia: 8,067 (14º)
Função: 13,207 (17º)
Final: 21,363 (6º)
– Apenas quatorze animais tiraram médias finais superiores a 21 pontos. Destes, dez animais (71 %) ficaram entre os três primeiros.
– Vinte e quatro animais obtiveram médias morfológicas superiores a 8 pontos. Destes, dez animais (42 %) ficaram entre os três primeiros.
– Onze animais conseguiram médias funcionais superiores a 13,5 pontos. Destes, seis animais (55 %) ficaram entre os três primeiros .
Para ter chance de ficar entre os DEZ primeiros
Nota morfológica mínima: 6,400
Média funcional mínima: 11,000
Nota morfológica desejável: superior a 7,400
Média funcional desejável: superior a 12,500
Para ter chance de ficar entre os TRÊS primeiros
Nota morfológica mínima: 7,000
Média funcional mínima: 12,000
Nota morfológica desejável: superior a 7,600
Média funcional desejável: superior a 13,000
Nenhum comentário:
Postar um comentário